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Luis Fernando Verissimo: A paixão colorada e a eterna crônica do Mundial de 2006
Por Redação FutInter em 30/08/2025 14:51
A comunidade colorada e o cenário cultural brasileiro se despedem de Luis Fernando Verissimo, que nos deixou aos 88 anos na madrugada deste sábado, em Porto Alegre. Em uma nota de profundo pesar, o Sport Club Internacional manifestou seu luto pela partida de um de seus mais ilustres torcedores, um escritor cujo amor pelo clube transcendeu as páginas de seus livros e colunas.
Verissimo, uma figura multifacetada na literatura, no cartum e no roteiro, nutria paixões declaradas pela literatura, pelo jazz e, inegavelmente, pelo futebol. Sua devoção ao esporte, e em particular ao Internacional , era um tema recorrente em suas publicações diárias, onde expressava com a mesma intensidade a alegria das vitórias e a dor das derrotas. Em 2004, essa ligação se materializou na obra "Internacional: autobiografia de uma paixão", um testemunho literário de sua identidade colorada.
O Gênio Literário e a Alma Colorada
A homenagem oficial do Internacional fez questão de rememorar um dos textos mais emblemáticos do autor sobre o time do coração. A crônica, intitulada "Não me acordem", foi veiculada no jornal Zero Hora em 18 de dezembro de 2006, um dia após a histórica conquista do Mundial de Clubes pelo Inter sobre o Barcelona. Essa peça não apenas registrou um momento de glória, mas também capturou a essência da experiência do torcedor colorado, elevando-a a um patamar de reflexão quase filosófica sobre o destino e a paixão.
No texto, Verissimo emprega a poderosa ideia de que "O passado é prólogo", uma máxima que ressignifica cada evento pretérito como mera preparação para um clímax inevitável. Segundo ele, determinados acontecimentos, como a vitória em 2006, conferem uma nova lógica a tudo o que veio antes, transformando uma vida inteira de experiências em um prefácio para aquele instante singular. A história, então, revela um sentido que antes permanecia oculto, aguardando o momento máximo para se manifestar.

A Epopeia de 2006: Uma Narrativa de Destino
O escritor aprofunda essa perspectiva ao sugerir que até mesmo os revezes e as desilusões do passado do Internacional ? a vitória do Grêmio em Tóquio em 1983, anos de desempenho medíocre, a ameaça de rebaixamento, finais perdidas e frustrações ? eram, na verdade, um prólogo para a glória alcançada em 17 de dezembro de 2006. Tudo se encaixava em uma trama maior, aguardando o desfecho triunfante para que sua coerência fosse plenamente percebida.
A grandeza do adversário, o Barcelona, e a presença de astros como Ronaldinho Gaúcho, não eram acaso, mas elementos cruciais para intensificar o brilho e o drama do triunfo colorado. Verissimo argumenta que a própria saída de jogadores como Pato e Fernandão durante a partida não poderia ser atribuída ao "acaso, esse autor sem imaginação". Para ele, o resultado daquele dia foi construído progressivamente, desde antes da fundação do Internacional , em uma linha temporal que se estende para além da história moderna, alcançando tempos imemoriais, conferindo até mesmo uma justificativa histórica ao "topete do Gabiru".
A Resiliência do Torcedor: Um Legado de Fé
A crônica então se volta para um texto anterior que o próprio Verissimo havia esquecido, mas que lhe foi gentilmente lembrado por uma leitora. Era uma carta aberta, um tributo a um jovem colorado, um menino de quatro ou cinco anos, que, cercado por familiares gremistas, ostentava orgulhosamente a camisa vermelha do Internacional .
Meu caro colorado. Desculpe esta carta a céu aberto, é que não sei nem seu nome nem seu endereço. Na verdade, só vi você na rua, de mãos dadas com seu pai e cercado pelos seus irmãos, que vestiam a camiseta do Grêmio (suponho que fossem seu pai e seus irmãos). Você estava com a camiseta do Internacional. Quase parei o carro para olhar melhor, mas não era miragem. Você tinha uns quatro ou cinco anos e estava de camiseta vermelha! Seu pai vestia uma camisa branca exemplarmente neutra, mas posso imaginar como tem sido a sua vida em casa. As provocações, os petelecos, aflauta, o martírio. E lá estava você de camiseta vermelha, o antigo escudo orgulhosamente no peito, desafiando todas as provações. Não sei se você sabe que vários colorados da sua geração não aguentaram e trocaram de time. Levaram pais e avós ao desespero, mas não suportaram a pressão do sucesso gremista. Você aguentou. Você não sabe, mas é um herói. E fiquei pensando que, quando for a nossa vez de novo, teremos certamente a torcida mais dedicada, fiel, convicta e feliz do Brasil. Porque será a torcida dos que resistiram. Aguente só mais um pouco. Meus respeitos.
O Sonho Eterno de um Colorado
Essa passagem sublinha a resiliência e a lealdade inabalável do torcedor colorado, que, mesmo diante da adversidade e da pressão do sucesso rival, mantém sua fé. Verissimo profetiza que essa perseverança resultaria na "torcida mais dedicada, fiel, convicta e feliz do Brasil".
A crônica culmina com um apelo poético, que encapsula a intensidade daquele momento de triunfo e a fragilidade da felicidade: "Mas isto tudo também pode ser um sonho. Se for, por favor: não me acordem." As palavras de Luis Fernando Verissimo, um dos maiores nomes da literatura brasileira e um colorado apaixonado, permanecem como um testamento de sua paixão, da eternidade do momento de 2006 e da alma indomável de uma torcida que ele tão bem soube traduzir.
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