Abel Braga: O Ícone Colorado Que Merece Dar Nome ao Beira-Rio

O entrelaçamento das letras "A" e "B" no distintivo do Sport Club Internacional adquire, para os torcedores, um significado muito mais profundo do que meras classificações. Elas remetem, inescapavelmente, a Abel Braga, cuja saga mais recente supera até mesmo a conquista mundial em termos de impacto emocional, conforme suas próprias palavras. O estrategista mais vitorioso na história do clube não apenas impediu uma descida de divisão; ele evitou um desastre financeiro de proporções inimagináveis, consolidando sua posição como uma figura que merece ter seu nome eternizado na própria casa colorada.

A magnitude de sua intervenção foi ecoada pelo capitão Alan Patrick, que declarou: "Não merecia que o nome dele fosse manchado com uma queda." Este sentimento reflete a gratidão generalizada dentro e fora do vestiário. Diante desse cenário, o presidente Alessandro Barcellos já indicou que a diretoria estuda formas de homenagear o lendário técnico no Beira-Rio, uma atitude que, para muitos, sequer arranha a superfície da dívida de reconhecimento.

A sugestão vai além de uma estátua ao lado de Fernandão, ou de uma fonte com simbolismos. O Conselho Deliberativo deveria, com urgência, examinar a viabilidade estatutária de substituir a denominação atual do estádio, "José Pinheiro Borda", pelo nome "Abel Carlos da Silva Braga". Embora se reconheça a importância do ex-dirigente na fundação da arena, o legado de Abel transcende as fronteiras da construção física, adentrando o reino da reconstrução de um espírito.

Abel Braga: O Arquiteto de Glórias e a Salvação Recente

Os feitos do técnico, carioca de nascimento mas gaúcho de coração, no comando do clube, superam qualquer outra contribuição. Ele foi o maestro da vitória por 2 a 1 no icônico Gre-Nal do Século, em 1989, e o artífice das consagradas campanhas da Libertadores e do Mundial de Clubes em 2006. Abelão já habitava o panteão dos deuses colorados, com um lugar assegurado entre as maiores lendas.

No entanto, ele optou por adicionar um novo e dramático capítulo a essa história gloriosa: a vitória por 3 a 1 sobre o Bragantino, em uma tarde ensolarada de domingo, que garantiu a permanência do Internacional na elite do futebol brasileiro. Este triunfo, em circunstâncias tão adversas, solidificou ainda mais seu status inigualável.

A despeito de sua imensa estatura, o próprio Abel, em coletiva, demonstrou uma humildade notável ao ser questionado se se via ao lado de figuras como Falcão, Fernandão, Figueroa e Valdomiro. Sua negativa, embora respeitável, é, para o observador mais atento, um raro equívoco de sua parte. Para a vasta maioria dos colorados, Abel Braga é, sem sombra de dúvida, a maior figura na história do clube.

O Retorno Heróico e o Gesto de Desprendimento

O retorno de Abel ao comando técnico, após sua aposentadoria em 2022, a apenas duas rodadas do fim do campeonato, não foi um mero gesto. Foi um sacrifício pessoal, um abandono do conforto de seu lar no Leblon para atender ao chamado de um clube em apuros. Ele fez muito mais do que apenas treinar; ele trouxe consigo uma aura de esperança e competência.

Sua grandeza foi ainda mais evidente no despojamento de qualquer vaidade pessoal. Abel estendeu a mão a torcedores aflitos, ao próprio clube e ao antigo companheiro D?Alessandro. Contudo, talvez o gesto mais significativo tenha sido o apoio oferecido a Alessandro Barcellos, o presidente.

É importante recordar que, no início de 2021, Barcellos optou por seguir com o acordo já firmado com o técnico espanhol Miguel Ángel Ramírez, em detrimento da continuidade do trabalho de Abel, que por meros 20 centímetros de impedimento de Edenilson, não conquistou o tetracampeonato brasileiro. Apesar da mágoa por não ter sido devidamente informado de sua saída, Abelão colocou qualquer ressentimento de lado para reassumir o comando por uma semana, em um ato de puro amor ao Internacional .

A Estrela Que Brilha em Momentos Decisivos

A missão, já árdua, ganhou contornos dramáticos após a derrota por 3 a 0 para o São Paulo, na quarta-feira, na Vila Belmiro. A equipe chegou ao emblemático 7 de dezembro de 2025 com a imperiosa necessidade de vencer e, sem depender apenas de si, precisava de resultados paralelos favoráveis.

Contudo, a competência de Abel Braga é inseparável de sua estrela. Ele orquestrou a estratégia perfeita para garantir uma vitória sem maiores sobressaltos, e o destino, como que por encanto, lhe brindou com os resultados necessários para a catarse que tomou conta das arquibancadas do Beira-Rio. Uma explosão de alegria e alívio que só poderia ser liderada por um personagem da estatura de Abelão.

Com a confirmação da permanência na Série A, o imponente homem de quase 1,90m de altura iniciou uma série de abraços emocionados. D?Alessandro, o coordenador da preparação física Elio Carravetta, o auxiliar Pablo Fernandez, o preparador físico Diego Pereira, Rochet, Alan Patrick , Carbonero ? todos foram alvo da efusão do treinador.

O Legado Que Exige Imortalização

Em seguida, abraçado a D?Alessandro, ele se dirigiu à Popular, para receber as justas homenagens da torcida. Antes de rumar ao vestiário, Abelão enviou beijos aos fãs, ergueu o dedo indicador, simbolizando a permanência na primeira divisão, e aproveitou para uma leve provocação.

Ele exibiu dois dedos, afirmando, com convicção, que "segunda divisão não". Em meio aos aplausos ensurdecedores, retribuiu o carinho com mais beijos e uma reverência à massa colorada. Mas, na verdade, é a torcida quem o reverencia, Abel. Os colorados sempre o aclamarão e o agradecerão por tudo que ele representa.

Embora não demonstre mais o desejo de atuar como técnico em tempo integral, é imperativo que Abel Braga permaneça no Internacional . Barcellos deve encontrar uma forma de oficializar sua inclusão no departamento de futebol para a temporada de 2026. O clube tem a obrigação de realizar essa homenagem para eternizá-lo de forma concreta. No coração dos colorados, Abelão já tem seu lugar garantido e imutável.